Acabou em briga e troca de palavrões o primeiro teste do ministro da Economia, Paulo Guedes, ontem (3) na audiência pública na Comissão de Constituição de Constituição e Justiça (CCJ) sobre a reforma da Previdência. Depois de seis horas e meia de sessão com sucessivos bate-bocas com a tropa da oposição, o ministro caiu na provocação do deputado Zeca Dirceu (PT-PR) que o acusou de ser ?tigrão? com os aposentados, idosos de baixa renda e agricultores, mas ?tchutchuca? com privilegiados do Brasil.
O ataque do petista, filho do ex-ministro, José Dirceu, levou à explosão final de Guedes que reagiu com destempero fora do microfone. ?Eu não vim aqui para ser desrespeitado, não. (?) tchutchuca é a mãe, é a avó, respeita as pessoas. (?) Isso é ofensa. Eu respeito quem me respeita. Se você não me respeita, não merece meu respeito?, afirmou.
Zeca começou as críticas perguntando a razão pela qual Guedes começou as reformas com a da Previdência e não alterações que afetassem os banqueiros. A partir daí, o clima ficou insustentável e o presidente da CCJ, Felipe Francischini (PSL-PR), teve que acabar com a audiência. Sem experiência e com apenas 27 anos, ele não conseguiu conduzir com firmeza a audiência. Por pelo menos outras vezes, a alta tensão e a gritaria dominaram a audiência.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), reagiu depois da sessão. ?Chamar um ministro de ?tchutchuca? é um absurdo?, afirmou ao Estado. ?É péssimo para a Câmara. Paulo Guedes tem dialogado com respeito com o Parlamento?.
Acusado de mentiroso, rentista do mercado financeiro e cruel por querer formar uma ?legião de pobres? com a capitalização da Previdência, Guedes partiu para um embate direto com os oposicionistas, com ironias e ataques aos dois governos do PT.
Um dos momentos mais tensos foi quando os deputados se intrometeram na sua resposta à pergunta do deputado Alessandro Molon (PSB-RJ) sobre a idade que as empregadas domésticas se aposentam. Com fúria, o ministro questionou os parlamentares da oposição: ?por que vocês não botaram imposto sobre dividendos, por que deram dinheiro para a JBS??. Voltando-se para os parlamentares, Guedes rebateu: ?nós estamos há três meses e vocês tiveram 18 anos (de poder) e não tiveram coragem de mudar?.
O bate-boca recomeçou quando Guedes falou que era caso de internação de que quem não via a necessidade de reforma. O que se seguiu foi nova explosão dos deputados. No primeiro embate, que levou à queda da Bolsa e alta do dólar, teve como estopim o sistema de capitalização. Guedes disse aos deputados: ?Se quiserem, embarquem seus filhos no avião em que vocês estão e vão acabar como Rio de Janeiro, Minas Gerais?.
A fala do ministro foi recebida com aplausos dos parlamentares governistas, enquanto representantes da oposição gritavam ?Chile?, em alusão aos problemas previdenciários pelos quais passam o país, citado como exemplo de sucesso por Paulo Guedes. ?O Chile tem quase o dobro da renda per capita do que o Brasil, acho que a Venezuela está melhor?, ironizou.
Confusão generalizada
Com a confusão generalizada ? que incluiu deputados homens mandando colegas mulheres ?calarem a boca? e outras mulheres saindo em defesa das deputadas atingidas -, Guedes acalmou os ânimos e pediu desculpas. ?Me aconselharam a não reagir, mas tentei ser atencioso. Sou muito respeitoso. Cometi o erro de interagir. Assim que eu interagi, vocês transformaram em outra coisa?, afirmou. ?Meu papel é relativamente simples, quem vai julgar são os senhores. Com a maior franqueza, não cabe a mim entrar no debate político. Tenho que dar explicações e não preciso me exaltar, me desculpe?.
Na defesa do fim dos privilégios, ele aproveitou para cutucar o Legislativo afirmando que os parlamentares têm aposentadorias 20 vezes superior em média a do INSS. Ele destacou que a aposentadoria média dos parlamentares é de R$ 28 mil, enquanto a dos trabalhadores da iniciativa do INSS que recebem pelo INSS é de R$ 1,4 mil.
Um dia após a confusão, o secretário especial adjunto de Previdência e Trabalho, Bruno Bianco, participa nesta quinta-feira, 4, às 9h30 de audiência no mesmo colegiado. A CCJ vai promover um debate com juristas sobre a constitucionalidade da reforma da Previdência. Bianco é procurador federal da AGU. (Fonte: Estadão)
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