As opiniões são de grávidas das classes C e D entrevistadas em São Paulo, Recife e João Pessoa, em abril, reunidas em pesquisa do Instituto Patrícia Galvão - Mídia e Direitos, em parceria com o Data Popular e apoio da ONU Mulheres, divulgada hoje (2), no Rio de Janeiro.
Poucas informações
Segundo a pesquisa, mulheres buscam informações sobre a síndrome da zika congênita, que passa da mãe ao bebê, na barriga, mas mesmo nas unidades de saúde, não encontram. "[A consulta] é muito rápida, a maioria nem olha para sua barriga", disse uma delas.
Muitas saem com dúvidas dos consultórios, sem saber, por exemplo, que podem pegar a doença durante toda a gestação e não apenas nos três primeiros meses - hipótese que chegou a ser cogitada cientificamente, mas já foi afastada - e que devem usar camisinha para evitar o contágio em relações sexuais, mesmo com o próprio parceiro - que pode ter sido picado pelo Aedes aegypti. Falta esclarecer também que a amamentação e vacinas não transmitem o vírus da zika.
Discriminação no atendimento
Na avaliação da médica e pesquisadora Jurema Werneck, da organização não governamental Criola, que foi consultora da ONU Mulheres, é preciso investigar mais por que as mulheres saem das consultas com dúvidas e sugere que há discriminação no atendimento.
"A pesquisa não diz isso claramente, mas cabe levantar, além dos problemas de baixa qualidade ética e humana de muitos profissionais [de saúde], no sentido da relação entre pessoas, no sistema público, privado ou conveniado, cabe ver o que influencia essa baixa qualidade de atendimento", disse Jurema. "Algumas pesquisas já apontam que, por trás disso está o racismo, a questão geracional - boa parte das grávidas são jovens - e a questão de classe".
As entrevistadas também confessaram que se sentem sozinhas e angustiadas por terem de se proteger da zika. Elas comentaram sobre a dificuldade de usar o repelente, que é caro e, muitas vezes, causa enjoo, roupas de mangas cumpridas, apesar do calor em algumas regiões, além de terem citado a dificuldade de convencer parceiros a usar preservativos.
Saneamento
Mesmo que faltem informações sobre a doença em si, a pesquisa confirma que as mulheres têm clareza sobre a origem da zika e as formas de erradicar o mosquito transmissor, vetor de outras doenças, como a dengue.
"As mulheres têm clareza que essa é uma epidemia que tem a ver com os determinantes sociais e de saúde, com responsabilidade dos governos municipais, que tem de fazer algo [para resolver os problemas da falta] de água, de saneamento [de coleta] de lixo", disse a representante do Escritório da ONU Mulheres no Brasil, Nadine Gasman, ao cobrar também mudanças na abordagem de saúde. "Dá para ver que há problemas de distanciamento [no atendimento]".
Jornalismo no combate à zika
Para apontar caminhos, as entrevistadas cobram uma mudança de viés na cobertura jornalística da doença. Querem menos "sofrimento" das famílias nas telas, jornais, programas de rádios e sites de notícias e mais informações sobre como evitar e lidar com a doença.
Fonte: Petrolina em Destaque
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